terça-feira, 23 de julho de 2013

O que importa é o trajeto, não o destino- Viagem ao Norte de Guanzhou

Show de Bala!

Há quase um ano foi inaugurada a linha do trem rápido que sai da cidade vizinha de Zhuhai até a capital Guangzhou (província de Guangdong), a qual se pode tomar o trem bala, que vai até Beijing. Decidimos percorrer um trajeto de 370 km no moderníssimo, seguro e confortável trem, descendo na estação Sul de Guangzhou para pegar o trem-bala até a cidade de Shaoguan para visitar o Parque Geográfico Nacional de Danxia, patrimônio natural da humanidade tombado pela UNESCO em 2010 (anunciado em Brasília). São mais de 600 formações rochosas entre picos, montanhas, paredões e outros nomes de acidentes geográficos inomináveis, que deixamos aos especialistas.
O trem fica bem limpinho de um lado antes do próximo embarque. O trem chega atingir a velocidade de 310km/h.

Pegamos o trem rápido em Zhuhai pelas 10h30 e chegamos mais ou menos às 13h30. O nosso guia Zhang  nos buscou na estação central de Shaoguan e fomos direto à Reserva Geológica da Montanha Danxia. Localizado a cerca  de 50 km à nordeste da cidade, com 290 km quadrados às margens do Rio Jin (Jin jiang). A entrada custa 100 Renminbis e é dividido em duas áreas de visitação: o parque do pico Yang elementar (Yangyuan shi) e o parque do pico da Longevidade (Changshou feng). Segundo as nossas pesquisas, Danxia possui o relevo de geomorfologia petrográfica e é única no seu gênero, cuja definição é "relevo baseado em cânions cortados". Logo, a atração do parque são as formações rochosas com saliências e acidentes de formatos fascinantes, para não dizer bizarras. Na reserva, monges taoístas construíram seus templos e mosteiros onde veneravam as formas genitais masculina (yang) e feminina (ying) como bem podemos notar ao se deparar com o pico e com a caverna revelada na foto abaixo. Acredite se quiser: a gruta está cercada com arame farpado.
Foto à esquerda: o pico Yangyuan (pedra macho ou Yang elementar), 28 metros de altura com 7 metros de diâmetro. Foto à direita: a gruta Yin (pedra fêmea ou Yin elementar).


Devido ao adiantado horário em que chegamos à reserva, pelas 15 horas, iniciamos o nosso passeio de barco (100 Renminbis) pelo Rio Jin (Jin jiang) curtindo aquela paisagem exótica de Danxiashan (Montanha da nuvem vermelha) através das curvas sinuosas do rio como uma ferradura. A cor da formação rochosa lembra o antigo calçamento de laje que tínhamos em POA. O passeio durou cerca de uma hora e começamos uma caminhada por trilhas com um sobe-desce por mais de 3 horas. As trilhas de arenitos vermelhos nos levaram à penhascos, mosteiros e templos no meio de uma mata nativa exemplar. Tudo muito cuidado, com pavimentos, escadarias, muros de contenção, encanamentos e fios de luz escondidos por dentro de bambus.  O calor estava abafador, as bermudas e camisetas ficavam permanentemente encharcadas de suor. Foi inevitável terminar a jornada em um restaurante familiar para um fim de tarde  reanimador com um Peixe ao alho poró e gengibre cozido ao vapor, um frango frito com alho poró e gengibre e arroz, acompanhado por uma bela cerveja Qingdao geladíssima. Tomar essa marca na China é como tomar Brahma no Brasil, mas geladíssima não é a toda hora que temos a sorte de saborear - principalmente sob o calor que fazia.
O hotel, uma adaptação de um malfadado empreendimento imobiliário, possuía boa acomodação, mas a sua decoração era para lá de piegas. Uma noite nos custou 380 Reniminbis.



No domingo saímos do hotel para não retornar, fizemos o check out pelas 9h30. Bem em frente ao hotel, nos deparamos com uma cena, no mínimo estranha: cerca de uma dúzia de homens e mulheres gritavam na margem da estrada, logo ao lado do local que escolhemos para fazer a refeição da manhã (já que café da manhã - como se conhece no ocidente - é bem difícil na China). Se vc não encarar um prato de massa ou sopa vai ficar com fome. Mas voltando à cena estranha e interessante daquela manhã, eram a vibração e gritaria dos chineses trepados em suas motos e lambretas toda vez que passava um carro, moto, caminhão ou pessoa. Sem entender nada tratamos de fazer o pedido e comer, pois o nosso carro deveria estar chegando. Não posso deixar de registrar a saborosa pimenta preparada pela casa. No final da refeição com a chegada do motora perguntamos o que seria os tais gritos, já que eram no dialeto Hakka local. O guia nos explicou se tratar de um tipo de propaganda do restaurante e os motoqueiros aos gritos tentavam persuadir os transeuntes e, muitas vezes, além dos gritos poderiam também perseguir de moto para "resgatar" um possível freguês ao restaurante.


               
        Entrada do parque


















Chegamos à segunda área de visitação, o parque do pico da Longevidade (Zhanglao feng). Tinhamos pensado seguir a sugestão do mapa turístico e subir diretamente de teleférico até o alto do pico Jin, mas fomos desaconselhados pelo nosso guia, que alegou "não subir à pé o pico da longevidade, veio em vão à Danxia". Enfim, seguimos seu conselho, mas foi penoso. 



As mochilas, no segundo dia de nosso passeio, pareciam-nos pesar 10 toneladas e as pernas tremiam ligeiramente. A área é dividida em três pontos turísticos principais: o paredão Jinyan, o belvedere Guanri (vista do nascer do sol) no pico da longevidade e a gruta Yin com direito a um passeio pelo lago Xianglong. Para se chegar ao paredão Jinyan, passamos pelo cânion "um risco de céu", vislumbramos "um pedaço do céu" e ainda passamos por uma caverna denominada de "alucinação". Rente ao paredão está situado o mosteiro de monjas budistas Jinyan, construído na dinastia Song do Norte (ca. 1100 da era atual), nas suas paredes há gravações primorosas de caligrafia chinesa. Depois caminhamos entorno de 2 quilômetros montanha acima até o belvedere Guanri, 800 metros acima do nível do mar. A paisagem lá de cima é deslumbrante e permite uma vista de todo o parque com seus inumeráveis picos com forma de chaleira, de menino lendo um livro, de uma beldade deitada, etc. Depois foi encarar a descida, que foi ainda mais dolorosa, com as pernas bambas. Mas valeu muito, muito a pena curtir a cada parada, a linda paisagem natural. Ao chegarmos finalmente à "perseguida", quase não a vimos, a gruta Yin (Yin yuan shi), que é infinitamente menor do que o seu par Yang (Yang yuan shi). Para fechar com chave de ouro, até por que a vontade que tínhamos era arrancarmos fora as pernas, o abençoado passeio de barco (20 Renminbis) pelo lago Longxiang com direito à vista de um templo taoísta construído também rente a um paredão e em frente à água cristalina. Realmente pode ser considerado um lugar onde é possível atingir a imortalidade, como diz o folheto turístico.



                                                                               As montanhas Ying e Yang


Para encerrar, contatamos o nosso guia para nos resgatar. Ele estava muito preocupado conosco, segundo ele, fomos os turistas que levaram mais tempo nesse trajeto, em torno de cinco horas. Quando um chinês pragmático vai entender a sua  própria máxima de que "o importante é o trajeto e não o destino"? Seguimos o ditame e faça-nos o favor de nos levar imediatamente para o restaurante com cerveja gelada da noite anterior. E foi assim. Tomamos o trem das 18h53 e chegamos pelas 22h e pouco em Zhuhai.