quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Saga de algumas Moradas

Muitos trocam de cep desde o nascimento outros vivem num mesmo local há gerações. Minha família não tem lá suas conservadorices que inspirem sagas ou histórias tão generosamente tradicionais. Para tentar entender, relembrar ou não simplesmente esquecer trascreverei as moradas que antecederam meu nascimento, batizado e quem sabe até a inadiável perda da virgindade. Em um longíquo 1943 nasce minha mãe no bairro da Glória numa Porto Alegre, ano que registrou  um dos dias mais quentes e secos da sua história, o mundo penva com  sangrentas mortes da segunda guerra mundial. Já em 1944, mesmo com a Guerra ainda em curso mas esses fatos não impediram sua mudança para a rua Marcílio Dias, casa com mais cômodos pois os filhos já eram tres  para em 1949 mudarem-se para o que hoje é coração da "boemia" da Cidade Baixa na rua José do Patrocínio 345. Essa casa vai durar, por longa data, até meados de 1954 quando se mudam para Padre Cacique numero 490. Agora, próximos do clube que sempre fez parte do coração de todos, minha mãe e seus 4 irmãos e sem o avô Francisco morariam ali até 1956 quando se mudam para Marcílio Dias pois a família, economicamente, já não possuia tantas possibilidades. Casa menor que perdura por um ano e que em 1957 se transferem para rua da República em um apartamento, o primeiro, que desencadearia uma atribulada sequência de fatos não menos importantes. Através de meu padrinho, seu irmão maisvelho, Jurandir, numa sacada "brilhante!" compram um bar endividado e se mudam para morar e labutar na rua Luiz Afonso. O bar até hoje existe mas as cores pessego e sem nome se perderam na memória do bairro mas não daqueles membros de uma família que lutava e amargava o não êxito de um empreendimento comercial. Em 1959 são despejados para se mudar para rua Oscar Bittencourt. Logo após, em 30 de dezembro do mesmo ano, mudam-se para rua Tomás Flores. Os dias eram difíceis e tres meses após mudam-se para Carlos Trein Filho. Surpreendentemente em meados de 1960 retornam para Tomás Flores agora para uma casa de cômodos, ou quem sabe de incômodos. Incômodos esses que trariam outra mudança para rua São Vicente, ainda em 1960. Mal começa o ano de 1961 Leonel Brizola convoca os gaúchos e os brasileiros a defenderem a Constituição. Entricheirando-se no Palácio Piratini, mobiliza a Brigada Militar e, através da “Cadeia da Legalidade”, formada por dezenas de emissoras de rádio, convoca o país a resistir ao golpe. A firme atitude Brizola divide as Forças Armadas, com a adesão do poderoso III Exército, sediado no Sul e comandado pelo general Machado Lopes, à tese do respeito à Constituição. A vida de meus familiares segue, com toda admiração e respeito que merece o "Sr Leonel", os fatos de sua história se mudando para próximo a Igreja...... na rua Cabral. Nesse ano revoltoso nasce minha prima mais velha, filha de meu padrinnho Jurandir, Denise. Depois dela seria a minha ficha que iria rolar muito tempo depois em 1964.
Em 1962  outra mudança dessa vez para rua Alan Kardek e em abril de1963 a mudança foi para rua Portuguesa. Maio de 1963 minha mãe e meu pai casam-se e outra saga se inicia.
Em novembro de 1963 eles se mudam para os fundos da casa do nosso querido Tio Saul na rua Artur Rocha, 84 onde nasce esse que registra algo, não tudo, ou pouco do muito, mas com alegria no dia 17 fevereiro de 1964  naquele, hoje distante e inexistente Hospital Lazaroto.
E aí vem o 1º de abril de abril, data indesejável. A cidade Porto Alegre vivia momentos conturbados logo após o Golpe, havendo na cidade tanto grupos golpistas quanto legalistas. Após a deflagração do movimento sedicioso que desencadearia ao golpe o então Presidente João Goulart, com o objetivo de garantir que o Exército se mantivesse fiel à legalidade, nomeou o Gal. Ladário Pereira Telles comandante do III Exército (que corresponde às tropas do Sul do Brasil).Já o então governador do Rio Grande do Sul, Ildo Meneghetti, pelego fdp que estava do lado dos golpistas tomou medidas para reprimir a resistência tais como requisitar as emissoras de rádio e de televisão e colocar a Brigada Militar e a Polícia Civil de prontidão para combater a resistência. Isto deveu-se ao fato de que uma parcela da população de Porto Alegre estava decidida a tomar o Palácio Piratini e depor o governador Meneghetti. Frente a isto, a tropa de choque da Brigada Militar posicionou-se em frente ao Palácio em defesa do governador.Para evitar o enfrentamento, o então prefeito de Porto Alegre, Sereno Chaise, que era do partido do presidente (PTB) e um dos líderes da resistência, clamou à população que aguardasse o desenlace dos acontecimentos no Paço Municipal. Neste momento é restaurada a Cadeia da Legalidade, rede de emissoras de rádio utilizadas na Campanha da Legalidade.
Frente à resistência feita pelo III Exército e pelo movimento civil, o Governador Meneghetti decide realizar a “Operação Farroupilha”, e transfere a sede do Governo do Estado para o 3º Batalhão de Caçadores da Brigada Militar em Passo Fundo, onde ficaria até o dia 3 de abril.
No dia 2 de abril, João Goulart é recebido pela população de Porto Alegre, mostrando que a “Mui leal e valorosa” estava disposta a resistir ao Golpe. No final da manhã do mesmo dia, Jango decide ir para o exílio no Uruguai, recusando-se a distribuir armas para a população e ampliar a resistência. Ele nunca mais voltou com vida ao seu país.

Naquele mesmo Maio de 64 o casal Francisco e Mariza, meus pais, e, mais eu se mudam para a rua Pedro Boticário para morar na casa de meus padrinhos, Jurandir e Lígia.  além da prima mais velha e Mara prima também nascida em fevereiro de 1964. A loucura era grande e meus pais em setembro do mesmo 64 partem para Rio Grande cidade natal de meu pai para morar na rua República do Líbano. A casa não era de libaneses apesar do endereço mas lá moravam meus avós paternos, Mário e Celanira, dos quais tenho lembranças e vivências muito fortes. Minha avó hoje tem 97 anos e meu avô que nem lembro bem quando faleceu pois era ainda uma criança analfabeta, mas lembro dele sentado tomando sopa e me alertando "Paulinho não sobe aquelas escadas pois lá tem cachorro". O cachorro nunca existiu mas as escadas deram alguns sustos e preocupações para minha mãe.
Em março de 1965 nasce meu irmão André, a vida para mim nunca mais seria mesma pois desde aquele dia passei a ter o melhor dos meus amigos.  Com dois filhos além de André ter de apenas dois meses retormamos para a casa do tio Saul. Naquela época o mercado de trabalho não tinha a mesma disputa dos dias de hoje. Meu pai jovem com uma formação, técnica precária conseguiu retornar para o mesmo posto que tinha em 64, na Associação Leopoldina Juvenil, vaga anteriormente conquistada pela influencia do mesmo tio Saul da Arthur Rocha mas agora reconquistada pela confiança adquirida por meu pai e  também depositada à ele.
Em 1966 vamos para uma casa ainda de fundos de um outro tio, também irmão de minha vó Caçula (Celanira) Eduardo, no Morro Santa Teresa rua......
Já em  outubro de1967 foi  a festa minha família compra um apt na rua Andaraí.
Mas em 1970 fomos "além mar", milagre econômico, a compra de um apt na Plinio Brasil Milano, 455 apt 02  além de um fusca 0km cor azul calcinha de placas AH4086, era nosso terceiro carro sendo que o primeiro foi um Dolphini Cor Cenoura....


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